Ainda sem solução

Dois anos depois, caso Rai Duarte segue em investigação

Afastado do trabalho e à espera de nova cirurgia, torcedor xavante também aguarda andamento da apuração na Justiça Militar

Foto: Volmer Perez - DP - Agente municipal de saúde afirma que estar encostado gera prejuízo mensal de cerca de R$ 2 mil

Dois anos depois de ter sido agredido por policiais em Porto Alegre após jogo do Brasil contra o São José, Rai Duarte, 35, segue à espera de definições. Prestes a virar pai de Valentina, o agente municipal de saúde e torcedor xavante ainda aguarda por mais uma cirurgia na região do abdômen. Quer voltar ao trabalho, do qual está afastado. E nutre expectativa pelo resultado da investigação do caso, em andamento na Justiça Militar.

Submetido a 14 operações desde aquele 1º de maio de 2022, Rai ficou quase quatro meses internado no Hospital Cristo Redentor. O próximo procedimento cirúrgico era estimado para ocorrer no ano passado, mas ainda não foi agendado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). O pelotense fará exames no dia 15; em julho passará por tomografia e, só depois, saberá quando a cirurgia acontecerá.

“Estou bem. Me alimento normalmente, caminho. Não posso correr, não posso jogar bola, não posso nadar porque estou com várias limitações. Está tudo solto [na região abdominal], não tem como”, explica. Em 2022, a esposa Aline esperava o nascimento de Hyantony, cujos primeiros dois anos de vida não puderam ser aproveitados como gostaria o pai. Afinal, as limitações tornam recomendável não pegar o pequeno no colo, por exemplo.

Profissão e finanças

Rai Duarte está afastado pelo INSS até outubro de 2025. O agente municipal de saúde pretende retornar, mas enquanto não realizar a cirurgia não será liberado. E a impossibilidade de trabalhar causa prejuízos financeiros. “Continuo perdendo R$ 2 mil no mínimo por mês. Não ganho vale-refeição, R$ 500, por estar encostado. Não ganho insalubridade, R$ 700. O que estou ganhando hoje não é nem o meu base, que é dois salários mínimos”, desabafa.

“Na última perícia, a médica disse: ‘se tu quiser, eu te aposento agora, porque tu não vai ficar 100%’. Tudo bem, eu fiz 14 cirurgias, não vou ficar 100%. Só quero voltar a trabalhar. Vou ficar fazendo o que em casa? E preciso trabalhar por causa de renda também. Ser aposentado com o que estou ganhando não tem como”, lamenta.

Depoimentos adiados

Enquanto isso, uma investigação acontece após denúncia do Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul. O caso voltou a avançar em março. Depoimentos de outras vítimas das agressões dos policiais – mais 11 torcedores xavantes dizem ter sofrido violência – começaram a acontecer na sede do Tribunal de Justiça Militar do Estado, em Porto Alegre.

A primeira oitiva estava marcada para julho de 2023. Entretanto, foi acatado um pedido de habeas corpus da defesa de um dos 17 policiais acusados, suspendendo as audiências. O panorama mudou em março depois de nova fundamentação da Auditoria Militar de Porto Alegre. Duas rodadas de depoimentos de outros envolvidos no episódio já ocorreram.

Advogados de defesa e acusação marcaram presença, assim como a juíza Karina do Nascimento e a promotora do MP Janine Soares. Rai ainda não depôs. A oitiva estava agendada para o último dia 25. No entanto, a advogada de um dos réus, grávida, teve o parto antecipado. A nova data é 10 de junho. Até agora, prestaram depoimento nove vítimas e testemunhas.

Apuração

O Inquérito Policial Militar (IPM) do caso cita uma briga entre torcedores de São José e Brasil nas arquibancadas do estádio Francisco Noveletto. Onze rubro-negros foram detidos no local, mas Rai Duarte não estava nesse grupo. Retirado de dentro de um ônibus de excursão por três soldados, todos já identificados, ele foi levado ao mesmo ambiente dos demais.

O IPM cita que os torcedores detidos eram perguntados por seus números de documentos. Conforme a apuração, um dos militares identificou que Rai havia sido soldado temporário. Depoimentos de testemunhas sustentam que, após essa descoberta, Rai foi levado até uma sala separada. Do outro local, as demais vítimas escutavam as agressões.

Minutos depois, duas viaturas levaram os 12 rubro-negros – seis em cada veículo – ao hospital. A equipe médica identificou que o quadro de Rai era grave, com hemorragia interna na região do intestino. Foi feita uma cirurgia emergencial. Os médicos concluíram que um “instrumento contundente” causou as lesões.

Próximos passos

Após os depoimentos das vítimas e testemunhas de acusação, os réus poderão apresentar testemunhas de defesa. Por último, os acusados serão ouvidos. O advogado de defesa dos torcedores agredidos, Rafael Martinelli, estima que cerca de dez audiências ainda devem ocorrer antes da sentença.

O caso é investigado como tortura, lesão gravíssima e injúria. Dos 17 policiais investigados, 11 tiveram identificada participação direta (um tenente e dez soldados). As penas que os militares estariam sujeitos caso haja condenação superam 15 anos de prisão, além da perda dos cargos.

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